Em Joanópolis, interior de São Paulo (Brasil), um projeto de Educação Viva e Consciente acontece rodeado pela natureza e pela paz das montanhas. Em visita ao espaço conheci as criadoras e educadoras que dão vida ao projeto conjuntamente às famílias que partilham dessa experiência de educação de seus filhos.

Em Joanópolis, interior de São Paulo (Brasil), um projeto de Educação Viva e Consciente acontece rodeado pela natureza e pela paz das montanhas. Em visita ao espaço conheci as criadoras e educadoras que dão vida ao projeto conjuntamente às famílias que partilham dessa experiência de educação de seus filhos.

Trago aqui uma entrevista com elas sobre esta iniciativa:

Como surgiu a ideia para a Casa Casulo? Quais são as principais inspirações e referências para o desenvolvimento do trabalho de vocês?

Mara Zeyn: Eu estava em um momento de muitos questionamentos em relação aos modelos convencionais da vida como um todo, mas com uma atenção maior à questão da escola por conta da experiência com a minha filha.
Há algum tempo vinha acompanhando a experiência de desescolarização que a Ana Thomaz vivia junto ao filho mais velho, que saiu da escola aos 14 anos, e de suas meninas, que nunca haviam ido à escola e tinham idades próximas a da minha filha.  Neste meio tempo conheci a Escola Livre Inkiri de Piracanga e a Ivana Jauregui, que criou a escola e na época era quem guiava o projeto.

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Uma escolha de mudança radical de vida, acompanhada do entusiasmo de poder criar um espaço diferenciado para as crianças foi a semente da Casa Casulo, plantada em meu coração em Janeiro de 2013. Então veio a mudança para Joanópolis e o trabalho ininterrupto para que em abril deste mesmo ano a Casulo pudesse abrir suas portas para as primeiras crianças. E foi neste meio tempo que eu conheci a Mariana, que exatamente no dia em que se iniciava a primeira reforma do espaço físico onde começaria a Casulo, apareceu com um projeto de uma escola livre pra apresentar para a Libertad (proprietária do Ponto de Luz). De imediato percebemos que queríamos a mesma coisa. Mas teríamos que partir de um mínimo lugar comum. Então resolvemos ir ao primeiro encontro de educadores que aconteceria em Piracanga e conhecer mais de perto uma grande referência que eu trazia para o projeto. Apresentei a Ana Thomaz aos pais da Casulo e a trouxe mais pra perto do processo que vivíamos junto aos pais na construção do projeto. Neste mesmo ano organizei um encontro de educação com Ivana e Ana Thomaz no Ponto de Luz.  Foi um momento muito importante para mim e para Mari, pois pudemos integrar duas referências de uma mesma “verdade” que tinham expressões muito distintas. Isso nos abriu uma oportunidade de reconhecermos e criarmos nosso próprio caminhar na guiança da Casulo.
A Casulo nasceu com a intenção de proporcionar à criança um espaço seguro para ela ser, se descobrir e experimentar o mundo e suas relações. Um lugar onde a criança possa ter sua singularidade reconhecida e respeitada. Onde a aprendizagem ocorra de maneira mais natural e responsável, decorrente da relação da criança com todos os seres e em harmonia com sua história, seus interesses, seu ritmo e seus caminhos internos de construção de conhecimento.  
Em julho de 2015 eu encerrei minha participação na linha de frente do projeto. Hoje participo do lugar de mãe e guardo o grato presente de ter construído e iniciado este lugar sagrado de amor.

Como é o cotidiano neste espaço educativo? Qual a relação dos pais e da comunidade com o projeto?

 
Mariana Reis: Nosso cotidiano parece o de uma família grande, porém uma família onde os adultos estão completamente dedicados às crianças. Não temos outra coisa para fazer ali além de estarmos disponíveis para elas. Disponíveis não no sentido de fazermos o que elas querem o tempo todo, longe disso, é uma disponibilidade muito mais interna do que externa.
 No momento são 8 crianças que frequentam a Casa Casulo, sendo que suas idades variam de 2 a 12 anos. Talvez poderia até dizer que varia de 2 a 34 anos. Além disso, bebês acompanhados de suas mães transitam também por lá. Temos espaços preparados para 3 grupos diferentes : temos o espaço dos bebês, dos menores e dos maiores. Mas eles ficam juntos grande parte do tempo, pois a área externa é toda compartilhada. Às vezes os maiores necessitam de uma distância dos menores e vice e versa, porém essa separação nem sempre se dá apenas por idade, se dá muito por interesses. Por exemplo, duas crianças, uma de 5 anos e outra de 11 anos, que se interessam muito por madeira e têm habilidades para tal, compartilham esse momento juntas. Enquanto isso, tem ser humano se relacionando, criando e aprendendo por todos os outros cantos: desenhando, capinando, cozinhando, martelando, lendo, conversando, rindo, cantando, entre muitas outras possibilidades de manifestação que a vida por si só nos oferece diariamente.
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A natureza nos move muito também. Se querem nos encontrar no calor podem procurar na cachoeira, já no frio a tendência de estarmos todos amontoados lendo e comendo pipoca é enorme.
O trabalho da Casa Casulo acontece de mãos dadas com os pais. Valorizamos muito essa parceria! Nosso espaço está sempre aberto para recebê-los e semanalmente temos um encontro com as famílias.
 

O que é a “Educação Viva”? Que outros projetos também se baseiam nesta filosofia?

Deborah Rocha: A Educação Viva e Consciente é uma proposta educativa que tem como um dos objetivos proporcionar novas possibilidades educativas para as crianças desta nova era, onde as elas sejam protagonistas de suas criações e decisões. É também um caminho de auto-conhecimento e cura para os adultos. Além disso, é uma filosofia que vai unindo o conceito de liberdade com o de responsabilidade de forma natural tanto para as crianças quanto para suas famílias, pois observo que todos querem ser livres, mas na mesma medida têm medo disso, pois isso inclui responsabilidades consigo mesmo que não estamos acostumados a colocar em prática, sempre apoiados na crença de que “não damos conta” e assim a educação viva procura cortar as raízes que sustentam tais pensamentos e co-construir uma nova ideia de o que é educar, baseando-se principalmente na educação de sua própria personalidade. 

Hoje temos projetos que se inspiraram na Educação Viva e Consciente na Argentina: a Buda em Cordoba, a Escuela Viva Amanecer em Buenos Aires, e a Escuela Viva Tierra na Patagonia; no Uruguay tem a Escuela Viva Del Bosque e no Brasil a Casa Casulo em Joanópolis-São Paulo, o Espaço Cria no Rio de Janeiro-RJ, o Quintal das Crianças em Salvador – BA, a Inkiri em Itacaré-BA e ainda algumas experiências em Portugal. Também estamos no momento de gestação do Instituto de Educação Viva e Consciente que tem como objetivo divulgar e expandir esta nova proposta educativa e também ajudar financeiramente os projetos que já existem ou que querem existir. A impulsionadora deste movimento é a Ivana Jauregui, mãe, educadora, criadora da Escola Viva Inkiri e uma mulher inspiradora que tornou o seu sonho uma realidade e vem hoje organizando palestras, cursos e vivências nestes países. 

Para saber mais:

  • Casa CasuloEmail
  • Instituto de Educação Viva e Consciente 
  • Escuela Viva Amanecer 
  • Escuela Viva Terra 
  • Escuela Viva del Bosque 
  • Quintal das Crianças 
  • Espaço Cria 
  • Escola Viva Inkiri